sexta-feira, outubro 10, 2008

" O CROMO "

O mercado livreiro já merecia uma obra assim. Chama-se «Le Betisier Domenech», o que pode ser entendido como «O estupidário de Domenech», e foi lançado esta quinta-feira em França. O livro é da autoria do jornalista Georges Alexandre e reúne as melhores frases do seleccionador francês ao longo de 40 anos de carreira.

Uma entusiasmante colecção das melhores tiradas de Raymond Domenech ameaça tornar-se uma obra de arte. Até porque se trata de uma pessoa encantadora, como ele próprio admite: «Falhei na comunicação. A minha maneira de trabalhar e o meu ar irónico podem dar a sensação que me importo com as pessoas: é falso».

Uma simpatia, este senhor. Sobretudo para os jornalistas: «Estou satisfeito com uma coisa: que as leis de excepção e da guilhotina não existam mais. Caso contrário, vejo aqui alguns que teriam um perverso prazer de me enviar para lá. Mas enfim, não matei ninguém. Talvez tivesse sido melhor se tivesse matado... Por força das circunstâncias».

Não se pense, porém, que Domenech tem alguma coisa contra as práticas totalitárias dos séculos passados. Não tem. Veja-se, por exemplo, quando Mourinho disse que Makalele era um escravo ao serviço da selecção francesa. «Não tenho qualquer relação de força com escravos. Ele é um escravo. Eu sou um esclavagista. Eu chicoteio-o e ele faz».

Mas Domenech não foi sempre assim. Houve uma altura em que mudou. Um dia, mais concretamente: 12 de Julho de 2004. «Eu mudei. Compreendi que as provocações não têm sentido nenhum e não fazem avançar as coisas». Mas durou pouco. Até porque não tem jeito para a representação. «Não interpreto nenhum papel a não ser um: o meu».

Nessa altura o seleccionador francês voltou a ser o que sempre foi: «A provocação é a minha maior arma». O que ninguém duvida. Nem Lucílio Baptista. «Já fiz um França-Itália em selecções de esperanças com um árbitro comprado. Não fui eu que inventei as histórias da arbitragem em Itália. Existem arranjos de resultados no futebol italiano».

Depois, claro, não é nada com ele. «Os italianos primeiro provocam-me e depois dão-me a culpa. Não entro nesse jogo». Até porque ele é qualquer coisa de muito parecido com a perfeição. «Eu não faço erros, faço escolhas». Um génio, enfim. Com o mesmo problema de todos os génios: «Hoje compreendi uma coisa: ninguém me compreende».

Aliás, ele próprio às vezes não se compreende. O que é sintomático. «Estou em permanente contradição comigo mesmo». Pelo menos nisso não está sozinho. Há milhões de franceses a acompanhá-lo. Nisso e noutra coisa, já agora: «Às vezes olho-me ao espelho e digo que se estivesse à minha frente odiar-me-ia a mim próprio».

SE NAO EXISTISSES TINHAS QUE SER INVENTADO

1 comentário:

Anónimo disse...

Graças a Deus pelo Queiroz, digo-te já...

Reis